quinta-feira, 19 de outubro de 2017

LIVRANDO-SE DA DEPRESSÃO

O que é depressão? É a pergunta do momento! E como todas as perguntas que tomam as ruas da internet acabam caindo no fosso da banalidade, também, assim muitos acham que depressão é apenas uma modinha de quem não tem o que fazer.


Hoje quero falar sobre algumas coisas que aconteceram comigo durante minha vida, porque acredito que falar de vivências nos faz organizar teorias.


Quando eu era criança, parecia que todos os problemas me cercavam. Desde os meus nove anos tive que lutar para ajudar minha mãe. Trabalhar na colheita de feijão, carpir algodão, catar batata foram minhas primeiras atividades. E não importava se fazia sol , chuva ou se caía granizo : eu tinha que estar lá ! Era a única oportunidade que eu tinha para ajudar minha mãe a sustentar minha família.


Lá em casa as coisas não eram fáceis. O homem que eu acreditava ser meu pai era um dependente de álcool, assim o dinheiro que ele conseguia servia apenas para manter seus vícios. E a família? A família ficava ao Deus dará.


Perdi a conta de quantas vezes eu saí de casa às cinco da madrugada para trabalhar. Poucos sabem como é angustiante, ficar no meio de uma porção de trabalhadores, aguardando que o encarregado te chame para trabalhar. De repente a boleia do caminhão que te leva ao trabalho é o único útero onde você pode semear o futuro. Quando se tem fome, não há escolhas: qualquer trabalho representa a sobrevivência.


No campo, você se transforma numa máquina, porque o medo da fome adormece todos os teus desejos. A mão que busca as batatas na terra fria, busca pelos trocados que se transformam em “hoje eu como”. Você não percebe o mundo, esquece de olhar para o céu, ignora a realidade. Aqui cabe uma reflexão. A miséria é tão cruel que ao te deixar desesperado pela sobrevivência te nega a vida.


Ao sair do trabalho seguia para a escola. Acreditava que na sala de aula me dariam a varinha de condão capaz de mudar minha vida. O conhecimento era uma espécie de abracadabra que eu não sabia como fazer funcionar. E minha angustia por não ver sentindo naquelas aulas fez de mim o aluno revoltado. Eu só queria bater! Descarregar minha raiva no primeiro que aparecia. Não temia as punições, pois a endorfina produzia depois dos golpes era sempre superior a qualquer repreensão.


E quando voltava para casa ficava trancado no meu quarto ou ia para o meio da mata. Fazia isto não ver aquele homem, que eu chamava de pai, bêbado batendo na minha mãe.


O tempo passou, mas eu só cresci. A rotina se repetia a cada dia, sempre do mesmo jeito. Nosso dinheiro mal dava para pagar as contas. Lembro que tive pedir comida na rua. Nunca me envergonhei, porque sempre pensei que é melhor pedir do que roubar.


Mas toda aquela situação ia enraizando dentro de mim uma tristeza profunda. Um “despertencimento” da vida. Um nó no peito ao qual chamava de solidão, mas era muito mais do que sentir-se só. Por várias vezes acreditei que Deus tinha me abandonado. Não queria mais ver a mim e a minha família sofrer. Foi neste momento que tive uma idéia em simular minha morte e sumir no mundo. Pensei e estava preparado para isto.


No caminho pro meu trabalho tinha um tubo enorme de água corrente e iria ser ali que eu desapareceria. Jogaria meus documentos a beira do rio para que ao serem achados dessem a entender que eu tinha sido tragado pelo tubo e levado pela correnteza.


Marquei o dia! Me sentei a beira do rio e não sei porque comecei a falar sozinho, pedindo perdão para Deus. Lembro que fechei os olhos e ao abri-los fui surpreendido pela presença de um senhor, negro, com os pés grandes, e uma roupa velha. Como eu fiquei olhando para ele, o senhor deu um sorriso cheio de paz e me falou:


- Bom dia moço a vida está difícil, né?


- Tá muito difícil. Respondi.


Ele sorriu mais uma vez e me disse:


- E fazendo o que você está pensando vai resolver alguma coisa?


- Sim, porque meus problemas vão com as águas.


- Filho, filho, a vida é como o moinho. Se você joga pedra, tem cascalho. Se jogar trigo, tem farinha. Você escolhe o que é pedra e o que é cascalho. Depende de como você lida com o que acontece com você.


- Mas é muita pedra!


- Pois então faça uma estrada com o cascalho. A dor e a tristeza fazem parte da vida. Não vê o bebê que sai do ventre da mãe chorando, mas depois percebe que é bom viver? Estamos renascendo a cada dia. Uns tem um parto mais dolorido, outros não, mas precisamos ver que a vida é muito boa. Raiva e angustia são sentimentos humanos. Não se culpe de sentir, mas também não deixe que eles comandem tua vida. Você não vê como a semente do milho sofre para que nasça o milho? Assim somos nós. Nós sofremos, mas para crescermos. Não deixe que a mágoa se transforme numa nuvem que impede de germinar os teus talentos. Você não está sozinho. Tem muita gente que cuida de ti. Vamos, moço, levanta! Levanta e vai procurar teus sonhos, o mundo é grande e a esperança é infinita. Tua jornada está apenas começando. Muitas lágrimas você ainda vai enxugar, mas principalmente tem milhares de alegrias esperando pelo teu sorriso.


Comecei a chorar e quando tirei as mãos do rosto ele já não estava mais lá, ou melhor, não se mostrava mais. Me levantei e segui para o meu trabalho. Descobri que na vida não precisamos de muita coisa, apenas estarmos abertos ao infinito, pois os nossos guias estão sempre a nos amparar.

Me chamo Maicon. Hoje tenho 24 anos, sou professor, umbandista e aprendi a estender a mão para todos que precisam, pois algo simples pode salvar vidas ...

Um comentário:

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